A pandemia não me fez mudar tanto, como as minhas escolhas me obrigaram a fazê-lo.

Mudei tantas vezes que perdi as contas.

Foram mudanças internas, que resplandeceram no externo, não somente na aparência, mas por toda extensão que se ampliava a partir de mim.

Minha casa além de uma nova decoração, tinha outra configuração, da janela outra paisagem, uma nova visão. Não foi uma mudança geográfica, mas duas, em plena pandemia.

Nem mesmo a moto continuou da mesma forma de outrora. 

Se as transformações cessaram? 

Sem perspectiva de encerramento, pois esse processo nunca findará. Não há outra maneira de se tornar uma pessoa melhor do que deixando seu antigo eu para trás, se reinventando e recomeçando sempre que suas raízes não tenham espaço para crescer.

 A mudança começa de dentro, não é um evento, mas um processo...  

Algumas circunstâncias externas te obrigam a mudar, vem de repente sem aviso prévio.  

A urgência se faz presente independente do que você elegeu como prioridade. 

Assim como a pandemia, que de uma hora para outra aconteceu, tornando suas certezas incertas, nos lembrando da lei da impermanência da vida, onde...

Nada é, tudo está.

Perdi as contas de quantas vezes me senti de cabeça para baixo, e não consegui me endireitar dando várias piruetas nesse mar imprevisto da vida.

A sensação era de que cedo ou tarde ia sufocar, que as ondas do mar para o fundo iam me arrastar. Fui sendo levada, não tinha onde me segurar e fui ficando sem ar... 

Uma onda atrás da outra... 

Nunca se tratou se eu tinha medo de água, ou de profundidade, se era boa nadadora, mas quanto suportaria ficar à deriva, ate encontrar uma luz, um bote, uma ilha ou a mim mesma.

Aprendi que nem sempre alguém que estende a mão está te oferecendo ajuda, mas pedindo. E quando se está em mar aberto, não é por mal, mas a pessoa em seu desespero te fará de bote pra se salvar e se você esquecer de si mesmo para ajudá-la, se afogará.

Chega uma hora que cansa nadar, você quer desistir , mas algo não te deixa parar.

Apesar de tudo, algo dentro dizia que algo de bom iria desabrochar. 

Cultivar a esperança e ver semear...

Demorei, mas descobri que ficar sem ar te ensina a respirar de novo, que por mais que pudesse doer era sinal que estava sentindo, porque estava viva, e isso por si só já valia a pena.

As suas energias se dissipam toda vez que você se debate quando a onda te  puxa, é algo inevitável de acontecer, mas depois que a onda acalma, seu corpo pode emergir, quem sabe flutuar.

Permita-se se perder para se encontrar.

Destrua o velho para o novo se criar.

Aprenda a dar um basta para não afundar.

É preciso arriscar, mergulhar antes do navio naufragar e juntar suas forças para escapar e romper com as âncoras que te seguram e não te deixam ir além.

Finalize antes de iniciar.  Fechar bem os ciclos, dá boa sorte para os novos, porque sempre haverá um novo recomeçar.

De tanto tempo ficar na água, passei a me familiarizar, mergulhei dentro de mim mesma, não fazê-lo seria me afogar, parei de sentir frio e soluçar, não fiquei mais lutando contra mim mesma, contra a vida e as adversidades. Passei a aceitar as coisas, a olhar a vida de outra forma, a densidade da água passou a me acariciar... E foi então que tudo fez sentindo...  Olhei para Lua, signo de fases, e lembrei que o meu signo de peixes sempre me apontou sobre minha intensidade e profundidade...

As forças não voltaram, elas sempre estiveram dentro de mim, a luz se acendeu quando lembrei quem eu sou. 

Tanto tempo no rio que te retém nos limites de suas margens, que ao atravessar as fronteiras e adentrar para o mar você acha que vai se afogar com as forças das ondas, sem saber que você passou sua vida buscando o oceano, e agora começou a ter acesso a tudo que mais ansiava...   

Tudo que veio antes foi para te preparar para agora... 

Muitas coisas que deram errado antes te conduziram para outra direção, te guiando para o seu próprio caminho!

Seus sonhos só são conquistados quando não se desiste deles. 

Confie, se seu coração sente é possível.

Você nunca estará perdido quando se lembra quem você é.