Sobre o que as quedas nos ensinam...

A gravidade nos empurra para baixo, mas a determinação nos faz levantar toda vez que caímos. O desejo de manter o equilíbrio nos faz andar vacilantes em um destino que às vezes desconhecemos. Talvez seja nos tombos da vida que aprendamos mais.

Uma vez ouvi que a moto é feita para cair, então desafiamos a lei da gravidade cada vez que giramos a chave e aceleramos. A velocidade, o trânsito, os outros motoristas multiplicam o risco. Você sabe as probabilidades, mas aposta em mais um dia em que tudo terminará bem e no dia seguinte repetirá a mesma coisa, sem pensar que algo sairá do script.

Ninguém cai de moto prevendo um acidente, ninguém leva um tombo torcendo para que isso aconteça.

Faz 1 mês e 3 dias que levei um tombo.
2 dias antes de viajar para aguardada viagem para Espírito Santo, em uma fração de segundos me vi no chão. Minha adrenalina foi a mil, só levantei e empurrei a moto que continuou ligada mesmo após a queda, me afastei do meio da rua, com medo de um carro colidir. Foi então que senti o edema no joelho direito. Algumas pessoas se aproximaram, um homem me perguntou se estava bem, outro tinha anotado a placa do carro que me fechou sem dar seta em uma avenida movimentada e que foi embora sem prestar socorro, e se disponibilizou em ser minha testemunha.
Três pessoas pararam para me ajudar sem nunca terem me visto na vida, uma delas me acompanhou até alguém que chamei chegar. 

A conduta do motorista de não ter se importado eu considero um descaso com a  vida humana.
E das pessoas que me socorreram AMOR AO PRÓXIMO.

As coisas podem ser extremamente relativas:
Você pode ter dado azar, mas também ter tido sorte.
E eu sei..
Poderia ter sido mais, mas deveria ter sido menos.

Tenho uma jaqueta com proteções, várias botas, uma boa luva e capacete, inclusive joelheira, mas a gente abre exceções, afinal nunca deu errado antes, é ali pertinho, até o dia que não dá certo.
Até o momento que não foi sua falta de atenção, não foi por distração, não estava rápida, não estava no corredor. Simplesmente alguém não obedece uma conduta de trânsito e te coloca em risco.
Não importa se eu estava certa, se estava no meu direito: se alguém foi lesionado, houve perda.
E nas breves exceções em que você não usa todo equipamento de segurança com pouca propensão de algo sair da sua rotina,  o risco se traça em uma certeza.
Talvez se tivesse mantido mais distância,  estivesse com a bota e a joalheria não haveria dano corporal.

Quando o médico viu o raio-x da minha perna, disse que não teve fratura e em tom de conselho disse:

"Se você for inteligente, juntará dinheiro e irá comprar um carro, nem que seja velho." 
"Se eu pegar mais dinheiro, eu pego uma moto nova, ou outra de categoria maior, mesmo sendo o valor de um carro" eu pensei.  

Devo ser burra ou ser uma apaixonada?rsrs

Me lembrei de um vídeo do Pedro Calabrez, neurocientista que diz que a paixão é uma demência temporária. https://www.youtube.com/watch?v=q5pfKoSYquE&feature=emb_logo
 Pois é,  você não é adivinho, mas já sabe o que vai acontecer né?
A gente cai de moto, mas não quer largar dela.
Lá tô eu de novo de moto, mas dessa vez com a jaqueta, luva, e calçado fechado e mais maldade no trânsito!

Deu errado, mas no final deu tudo certo, a gente aprende e agradece.

E sabe uma coisa que eu quero te fazer refletir motociclista?
A pessoa apressada que passa do seu lado correndo pára no mesmo sinal que você esta parado, a vida do outro é tão valiosa quanto a sua. A faca tem dois gumes e atinge dois aspectos, poderia ter sido eu a pessoa que machucou alguém. Não doeria menos, causaria dor independente de quem seja.
O desafio do trânsito é que não se trata somente da sua conduta,  a ação do outro refletirá diretamente no outro, com qual trânsito você esta contribuindo?

Um carro tem lataria e sua jaqueta, luva e calçado são sua proteção.
O dia pode estar quente, sim, mas acho que a queimadura do asfalto estará pior. Posso estar mais bonita de sandália, mas troco a bota quando chegar, adoro saia no calor, mas ponho na bolsa para depois colocar.

Irão te dar mil motivos para parar de andar de moto ou pra você nem tirar a carteira, porque é perigoso,  mas eu te digo, se você elencar todas as coisas que podem dar errado você pode ter um ataque de pânico e não sair mais de casa e é por isso que você vai deixar de viver? Já ouviu a história que alguém estava em casa e o raio caiu em cima dela? Não adianta fugir. 
Então prefiro estar aonde escolhi. 
Faça as coisas com consciência, sabendo do risco você poderá ter ações para minimizá-las. 

E se permite te dar um conselho...

Crie um hábito: o de pedir proteção,  onde quer que você vá e o horário que for e não menos importante, agradeça ao chegar.

Reconheça o valor das pequenas coisas e sinta gratidão no seu coração...

Me sinto grata por não ter sido pior..
Por ter tido pessoas que me ajudaram sem nem me conhecerem, que me deram atenção, cuidado e suporte.
Por ter alguém com que pude contar e que ficou horas comigo no hospital até ser atendida, me levando de cadeira de rodas de um lado pro outro.
Pelas pessoas que se preocuparam comigo, pelos amigos que estenderam o braço.
Por ter renovado o seguro uma semana antes
Por Deus ter me protegido de algo pior.

Agradeço por estar viva e cheia de energia para continuar seguindo em frente na estrada da minha vida.